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sábado, 5 de janeiro de 2013

CASA DO MEU ESCRITOR

VISITA DO MEU ESCRITOR PELO BLOG E EU, CLARO, NÃO PERDI A OPORTUNIDADE DE  O ENCONTRAR EM SUA CASA-POEMA... SUAS CRÔNICAS POR AQUI É O QUE TENHO COMO EXEMPLO ÍMPAR DE BELEZA!!!


                                                    EU E JOSÉ CUNHA FILHO



E Ainda Ri?

                                       José Cunha Filho

            Fim de semana, vocês sabem, não é fácil. Estrada boa, sol, praia superlotada, membros da Tribo do Pau Pequeno e Trovão na orla. São muitos a insistir em colocar os dois neurônios para ensurdecer com os alto-falantes instalados nos carros. Quase sempre antigos, quase sempre cheio de homens – o que corrobora a tese do “pelo menos faço barulho, ainda que o... bem, deixa pra lá – e o povo desce dos municípios vizinhos.
            O que me fez tropeçar no Oduvaldo. Não via o Oduvaldo desde os idos do século passado. Segundo amigos comuns, migrara para o Rio e por lá ficara. Morava em Tribobó, mas, para todos os efeitos “era carioca”. Pois voltou o Oduvaldo, o Dinho da patota da Lapa de cá, não a de lá. Mais gorduchinho e ainda (ah, este negócio de politicamente correto!) com “embaraço fônico característico do pselismo” – nada demais, senhora. Olhei no Aurélio: significa “gaguez”-, gago.- Pois é, vamos abreviar senão os leitores abandonam o barco, digo a crônica.
            Tropeçar é bem o termo, pois o Dinho se abaixara para acariciar um poodle chatíssimo da mulher que o acompanhava. Sem sinalizar nem nada, o que levou uma senhora corpulenta a colidir com ele, rolar em direção à mesa e derrubar a minha latinha de cerveja. Uma só por semana, que o cardiologista não deixa ir além. Cerveja servida no açougue do Evanir, que tem tudo, até mesmo carne para vender. Desculpas pra lá, desculpas pra cá, o Dinho me viu e fez a festa.
            - Há quanto tempo, rararararapa...
            - Paz, sei, você não estava no Rio? Retornou? Toma uma cervejinha?
            A mulher do Dinho não gostou, amarrou a cara e disse que ia levar Mercedes pra casa. Mercedes era a poodle de saiotinho... Que ele não demorasse, pois...
            - Tudo bebebebeeeeeeemmm...
            O Dinho é daqueles gagos que derrapam na entrada, como vocês perceberam. Basta ficar calmo que é capaz de conversar normalmente, chega mesmo a cantar, o que não é novidade, o Nelson Gonçalves, gago de pai, mãe e parteira, também cantava, dizem.
            Bebericamos outra latinha de cerveja e pergunto como estão as coisas, se o psicólogo e a fonoaudióloga ajudaram a resolver o problema da tartamudez ou gagueira crônica. Pelo visto, não, mas não custava dar um alento ao amigo.
            - Pois ajudaram babasbastatante... Tô normal, só fifififico meio fora do ar quando...
            - Sei... E tá fazendo o que? Dinho, após engolir a cerveja, estava menos travado. Explicou que tinha feito um concurso para uma empreiteira do porto do Açu e tinha passado. Aproveitava o fim de semana para arrumar a casa que alugara e estava se preparando para se apresentar.
            - Tenho que dar o meu cucucucucu...
            Pombas, difícil emprego este e o cara ainda tem que se esforçar para conseguir chegar lá.
            Dinho engasgou e começou a rir, enquanto tentava completar a frase...
            - Pra conseguir o empreprego, só falta dar o meu dar o meu cucucucucucucu...
            Um cara que estava na mesa ao lado não agüentou e meteu a colher torta na conversa:
            - Ô meu, eu num tenho nada com isso, mas você vai dar o fiofó e ainda ri, pô? Tudo por um emprego?
            Dinho empombou e falou curto e grosso, sem derrapar.
            - Dar o meu currículo, fedaputa!
            Ah, bom... Tá explicado.

           

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