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terça-feira, 10 de julho de 2012

OUTRA DO MESTRE JOSÉ CUNHA FILHO

Outra crônica de escritor preferido!
Tô ficando boba que só!
Divido aqui com vocês, mas repito...
Os beijinhos na bochecha, divido não!
Simplesmente incomparável!

E Ainda Ri?

                                       José Cunha Filho

            Fim de semana, vocês sabem, não é fácil. Estrada boa, sol, praia sossegada, ausência de membros da Tribo do Pau Pequeno e Trovão na orla. Ainda que alguns insistam em colocar os dois neurônios para ensurdecer com os alto-falantes instalados nos carros. Quase sempre antigos, quase sempre cheio de homens – o que corrobora a tese do “pelo menos faço barulho, ainda que o...” bem, deixa pra lá – e o povo desce dos municípios vizinhos.
            O que me fez tropeçar no Oduvaldo. Não via o Oduvaldo desde os idos do século passado. Segundo amigos comuns, migrara para o Rio e por lá ficara. Morava em Tribobó, mas, para todos os efeitos “era carioca”. Pois voltou o Oduvaldo, o Dinho da patota da Lapa de cá, não a de lá. Mais gorduchinho e ainda (ah, este negócio de politicamente correto!) com “embaraço fônico característico do pselismo” – nada demais, senhora. Olhei no Aurélio: significa “gaguez”-, gago. Pois é, vamos abreviar senão os leitores abandonam o barco, digo o blog.
            Tropeçar é bem o termo, pois o Dinho se abaixara para acariciar um poodle chatíssimo da mulher que o acompanhava. Sem sinalizar nem nada, o que levou uma senhora corpulenta a colidir com ele, rolar em direção a mesa e derrubar a minha latinha de cerveja. Uma só por semana, que o cardiologista não deixa ir além. Cerveja servida no açougue do Evanir, que tem tudo, até mesmo carne para vender. Desculpas pra lá, desculpas pra cá, o Dinho me viu e fez a festa.
            - Há quanto tempo, rararararapa...
            - Paz, sei, você não estava no Rio? Retornou? Toma uma cervejinha?
            A mulher do Dinho não gostou, amarrou a cara e disse que ia levar Mercedes pra casa. Mercedes era a poodle de saiotinho... Que ele não demorasse, pois...
            - Tudo bebebebeeeeeeemmm...
            O Dinho é daqueles gagos que derrapam na saída, como vocês perceberam. Basta ficar calmo que é capaz de conversar normalmente, chega mesmo a cantar, o que não é novidade, o Nelson Gonçalves, gago de pai, mãe e parteira, também cantava, dizem.
            Bebericamos outra latinha de cerveja e pergunto como estão as coisas, se o psicólogo e a fonoaudióloga ajudaram a resolver o problema da tartamudez ou gagueira crônica. Pelo visto, não, mas não custava dar um alento ao amigo.
            - Pois ajudaram babasbastatante... Tô normal, só fifififico meio fora do ar quando...
            - Sei... E tá fazendo o que? Dinho, após engolir a cerveja, estava menos travado. Explicou que tinha feito um concurso para uma empreiteira do porto do Açu e tinha passado. Aproveitava o fim de semana para arrumar a casa que alugara e estava se preparando para se apresentar.
            - Tenho que dar o meu cucucucucu...
            Pombas, difícil emprego este e o cara ainda tem que se esforçar para conseguir chegar lá.
            Dinho engasgou e começou a rir, enquanto tentava completar a frase...
            - Pra conseguir o empreprego, tive que dar o cucucucucucucu...
            Um cara que estava na mesa ao lado não agüentou e meteu a colher torta na conversa:
            - Ô meu, eu num tenho nada com isso, mas você vai dar o fiofó e ainda ri, pô? Tudo por um emprego?
            Dinho empombou e falou curto e grosso, sem derrapar.
            - Dar o meu currículo, fedaputa!
            Ah, bom... Tá explicado.

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