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sexta-feira, 29 de junho de 2012

RECEITA PARA TER ESCRITOR PREFERIDO

RECEITA PARA TER ESCRITOR PREFERIDO:
1- Leia, o que convém e o que não convém;
2- Leia ouvindo uma música (treinando percepções);
3- Separe 10 escritores que lhe agrada;
4- Tente peneirar, fique com 5;
5- Tem jeito não... esqueci a receita, desculpe, receita para ter escritor preferido só se faz uma vez, mas... fica uma dica: o preferido é aquele que lhe sorri até nas entrelinhas.

TENHO O PRAZER DE TER O MEU, E O MESMO ME FURTA SORRISOS CADA VEZ QUE ABRO O E-MAIL E LÁ ESTÁ ELE: "OI MONIQUINHA"... E MAIS PRESENTES... E MAIS ESCRITOS QUE AQUI DIVIDO COM VOCÊS... OS BEIJINHOS NA BOCHECHA... AH, DIVIDO NÃO!

Peça de Alto Valor
                                               José Cunha Filho
                                                       

            - Doutor Rodrigo... O Seu Genário tá aí fora e quer falar com o senhor...
            - Genário? Que Genário? Não conheço nenhum e, além do mais, não está na agenda...
            - É... Mas, ele diz que é amigo do senhor e que o senhor estava esperando por ele...
            O médico conferiu e lá estava eu. Com a mesma cara que Deus me deu ao nascer. Carequinha também, só não pelado como o bebê na fotografia que mamãe gostava.
            - Oi, Cunha... Que negócio é esse de Genário, num entendi...
            A secretária pediu licença e saiu de fininho. Sentou-se atrás da mesinha de tampo de vidro, apertadinha dentro de uma micro-saia bordô.
            - Foi um ruído de comunicação, Rodriguinho... Eu disse pra mocinha que recheia, com muito garbo e propriedade, diga-se de passagem, a micro-saia, que “era um sexagenário que desejava falar com o doutor”.
            - Ah, perdão... A moça não entendeu, tádinha. Sexagenário pra Seu Genário até que é parecido, né?
            - É tão parecido quanto o raio que a parta, não acha?
            - Ela não é muito lida, mas sonha ser presidente da república. Essas meninas, você sabe, né?
            Sabia, sabia. Achei de muito bom gosto o consultório e, notadamente, a secretária.
            O médico se encheu de orgulho. A secretária, disse, foi escolhida a dedo.
            - No que fez bem... No que fez bem... Dedo é?
            - Bem... A Creuza... Num ri não, fedaputa, o nome dela é esse mesmo e ela é muito boazinha.
            - Boazuda, Rodrigo, deixe de modéstia. Como dizia o padre Afonso nas aulas de latim, se bobear fornicatis est creusadis anus.
            - Sabia que você ia sacanear, sabia... Mas eu contratei a menina exatamente por isto, dá charme ao consultório. Como aqueles políticos que encomendam metros de livros para preencher estantes e sentirem-se cultos... O cliente olha, sente a presença da Creuza, aquela pujança toda e já sai tinindo nos cascos, topa qualquer tratamento de reposição hormonal.
            - Psicologia... Se o doutor tá dando conta do recado, apesar de meu colega de turma, eu também vou ficar nos trinques...
            - Isso aí... Mas me conta... Como estão as coisas?
            - Excetuando-se o fato do genarismo militante, até que bem vão, não tanto quanto você, mas vamos indo... A dedo é?
            - Deixa de sacanagem. Vê só que mimo a câmara colorida que mandei instalar na sala de espera. Foi assim que soube que o Seu Genário era você...
            Por acidente, a câmara fixava exatamente as intermináveis, perfeitas e maravilhosas pernas de D. Creuza, deixando antever um minúsculo triângulo de seda lá nos confins do paraíso.
            - É... Você é um profissional bem sucedido.
            - Com direito a uma peça de alta estima e consideração...
            Pena que durou pouco. A mulher do Rodriguinho apareceu de repente no consultório e, dias depois, estava lá um atendente.
             Como diria o padre Afonso, tádinha da Creuza pulchra puella...
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A Dadivosa

            José Cunha Filho

            Bem verdade que não sou ainda um aeródromo de mosquitos. Mas os cabelos escasseiam e tenho um especialista para cuidar deles. Nada de creminhos, massagens e frescurinhas que tais. Antigamente seria chamado barbeiro. Agora é titular de salão unisex. Aliás, indaguei dele o motivo ter apelidado assim o salão.
            O Jorge, que é careca também, disse que é por atender ambos os sexos. Do jeito que andam as coisas, melhor batizar o salão de “totalsex”. A clientela é cada vez mais eclética. Deixemos de lados os modernos costumes, porém...
            Estava eu posto em sossego, toalhinha ao pescoço, enquanto o Jorge laborava em minha cabeça. Ele já me conhece e sabe como gosto de cortar o cabelo. Em silêncio. Não gosto de futebol, ele também não. Tem suas vantagens. E desvantagens, também.
             Como ouvir, sem querer, o que se diz nas cadeiras ao lado. Uma delas ocupada por uma jovem bem apetitosa, daquelas que nasceram para desfrutar o ócio, passar as manhãs nos shoppings, as tardes nos salões de beleza e as noites, bem... O celular dela tocou, a manicure atendeu, pois a cliente estava cheia de algodãozinho dos dedos e disse.
            - Pra você Maria Eduarda... É a Fanda...
            O problema é que a moçoila não carecia ter celular para comunicar-se com a Fanda. O salão inteiro ouvia a conversa.
            - Nem te conto, menina... Saí com o Toninho ontem.  É, o Toninho, aquele engenheiro de Macaé que foi reserva da seleção de vôlei do Bernardinho...
            - Homão? Claro que é, menina... Dois metros e vinte e descalço...
            A Fanda deve ter achado interessante. Pois a Dadinha, - ela fez questão de esclarecer que, para as amigas, ela era Dadinha -. Maria Eduarda é nome de empresária que a mãezinha lá dela pensou que fosse funcionar e ela virar executiva. Até que, pelo que disse a Fanda, trabalhou algum tempo como corretora de imóveis, mas, depois preferiu corretar a si própria, com maior mobilidade, e deu-se bem.
            - Me dei bem... Não, Fanda... Tô bem... Dou sim, isto é outra história. Deixa eu falar do Toninho... Nós fomos num restaurante carésimo em Búzios e, ao depois, você sabe. Ele sugeriu um champanhe no apartamento dele.
            - Claro que fui, né, louca! O pior é que baixou um climão assim, quando ele disse que tinha uma mania. Fiquei passada, pois ele encomendara o serviço completo, imagina?
            Jorge quase cortou minha orelha. Pedi que parasse para ouvir o desfecho. Senão, além de calvo, eu ficaria com os óculos cambaios...
            - No fim, a mania do cara era até inocente... É que, quando era mais novinho, mandou tatuar o bilau dele com letras góticas. Uma gracinha precisava ver...
            - Uns 12 centímetros, escrito assim, ó: Saba...
            Dadinha ajeitou a almofadinha que apoiava o seu traseiro e arrematou.
            - Por que tô reclamando?
            - Tô é estrupiada, acabadinha. Quando ele abriu o fole tava escrito lá, ó: “Saudades de Pindamonhangaba”...
           

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