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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Croniquinha "vadia" mais linda do meu Blog (colaboração do mestre VôSogroCunhaPai)

Bolero...
                                                          
           
            Calor.
            Os dedos gastos no teclado repetem sinais que ninguém vê. Sombras nascidas do inconsciente, o calor, o calor, a fé cega e faca amolada, amolada...
            Calor.
            Uma caixa repercute baixinho, as ondas crescem, o mar se espraia... Longe.
            Voltar à rotina, ao batucar das teclas, preto no branco, branco na preta, preta no branco, loura paixão, louca paixão...
            Ravel? Paranóia? Paratudoparaparapreparadopara? Sair, voltar?
            Calor.
            A sala é a sua sala, mas não é mais a sua sala, a sua mesa não é a sua mesa, a mulher na cadeira que é e não é a sua, sorri sem jeito, sem vontade...
            - Como?
            Olha em volta, tudo igual e tudo diferente, o ar é o mesmo, as coisas não. Há gente e seus amigos, onde estão? Gente e não pessoas, a individualidade se esfuma em solo de sax e retinir de caixas e címbalos...
            - Onde estão todos?
            - O senhor está bem? Quer um copo de água?
            - Saí agorinha mesmo pra tomar um café e não sei mais onde estão todos. Enlouqueci?
            - O senhor nunca esteve aqui antes, nunca esteve, nunca esteve, nunca esteve...
            - Quebrou o disco, o CD sei lá o quê, quem é você?
            - Aqui ainda não é o seu lugar, o senhor não é daqui!
            A caixa retine, os trombones surgem, graves, o calor, o calor...
            Violinos gemem, caixa repercute, batem címbalos, rapsódia eterna e onde estão os meus amigos, a minha casa, o meu trabalho, a minha vida?
            - Atravessou o portal?
            A mocinha de branco diz que não, ainda sentada na mesa que já não guarda mais a minha memória, a minha saudade, os meus anos dourados, a rapsódia amplia a resposta com novos instrumentos, mais altos, mais graves, mais e mais calor e, de repente, não muito mais que súbito e cristalino, o fim.
            Quando? Como? Pôr que?
            Passar pelo tempo e só?
            Todos juntos agora.
            Scherzo? Vibrato!


                                                                José Cunha Filho

Meu "inspirador" de crônica

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