JOSÉ CUNHA PELO BLOG
Estava com saudades de minha/nossa dose de Zé Cunha, não vivo sem... viciei, ué! Como não gostar do inventor do "VENTRE MONIQUIANO"? Como não me identificar em sentimentos e entrelinhas? Pois é! Mato a saudade desse poema chamado José Cunha Filho (preferiu os ares das praias sanjoanenses) em seus escritos relembrando nossa primeira conversa sobre Julinho de Adelaide e afins... Você é especial demais!!! Aqui deixo registrado, depois dessa delícia de leitura, os frutos do "ventre moniquiano". Bom... Vamos à crônica, ora pois...
Meu Ódio Será Tua Herança
José Cunha Filho
A noite era promissora. A mulher, Janete, havia ido a Campos ver filhos e noras. A sexta-feira vinha embrulhada numa chuva fina e vento sul. O filme encomendado pela Internet estava no ponto no DVD player e uma cumbuca com pipocas dormitava na mesinha de centro. O sofá, com todas as almofadas necessárias para o conforto do colunista (não mais o que escreve, o que tem a dita torta), prontinho. Aí...
Bateu o celular. Justo quando revia as primeiras cenas do clássico de Sam Peckinpah: The Wild Bunch.
Acha o fedaputa agora. Toca e você tenta pegar o cabrunco que está sob alguma almofada, perde o equilíbrio, bate com o pé na cumbuca de pipoca e elas entram em órbita. O celular zumbindo e tocando a “Cavalgada das Valquírias” que, em má hora, achei um toque simpático para me chamar a atenção. Tropeço na mesinha, derrubo o café, piso as pipocas, chuto as almofadas e, sob a última delas, o celular que atendo, arfante:
- Boa-Noite! Aqui é do banco Itu, a senhora Guiomar Bicudo Carrapatoso, por favor?
A voz. Melosa, porém distante. Colocaram uma locutora num frigorífico, a bunda plantada numa pedra de gelo para que a frase saísse a mais impessoal possível. Respondo que não é uma boa noite, não sou e nem pretendo ser Guiomar e o telefone é meu.
A coisa (é uma gravação!) insiste:
- Boa-Noite! A senhora Guiomar Bicudo Carrapatoso...
- Meu nome é Cunha, pombas! Num tem nenhum carrapato aqui!
- Um momento que estarei transferindo para um dos nossos atendentes.
Como já estou pisando em café que melou o piso e as almofadas, estragou as pipocas, já deixei o cabrunco do celular no alto-falante tento consertar a esbórnia. Dele, o celular, vem o ruído de uma feira de peixes, um monte de mulheres falando ao mesmo tempo e nada de atendente. Consigo chegar até o prostibular invento auricular e o desligo. Não satisfeito, desmonto o bicho e tiro a pilha.
Sossego, afinal! Uma hora depois, lá para uma da matina, sala razoavelmente arrumada, banho tomado, refaço as pipocas, arrumo o sofá com as almofadas, poucas, ainda secas, e me instalo para rever, afinal, William Holden em “Meu Ódio Será a Tua Herança”. Nada menos que um dos dez westerns clássicos do século 20.
É. Mas, vá lá que a mulher ligue para saber se estou bem? Remonto o celular, coloco o estrupício sobre a mesinha. Estico-me no sofá e ligo o DVD.
Pimba. O desgraçado toca. Atendo:
- Boa-Noite! É do Banco Itu, a senhora Guiomar Bicudo Carrapatos...
Jogo o desinfeliz na varanda e fecho a porta. Não adianta dizer que não conheço a dama em questão. Que não sou e não pretendo ser cliente do banco Itu. Aliás, de banco nenhum. Só recebo a minha pensão num deles que não é o escolhido pelos Carrapatosos. Por sinal, nem chego a sacar e já estou devendo ao tamborete.
Carrapatoso, é? Guiomar, ainda por cima! Deve de ser uma veterinária, como diria o próprio político nascido em Carrapato, antigo distrito de São João da Barra. Seria parente dele? Pouco provável, virou dono de rádio, foi ou é deputado, foi prefeito de São Francisco de Itabapoana e é capaz de ter extinto Carrapato, hoje com algum nome pomposo.
Tem problema não. Cada tiro disparado por William Holden, Robert Ryan, Ernest Borgnine, Ben Johnson e Warren Oates vai parar direitinho no traseiro, que espero seja gordo, da operadora de telemarketing do banco Itu.
Quanto aos celulares, aviso a amigos e inimigos: eu os desligo sempre que anoitece.
APRESENTANDO RESULTADOS DO "VENTRE MONIQUIANO"
Thamyris
Vinícius
Mariana
Murilo
Prole
Thamyris e seu avô José Cunha
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